Capítulo 1 Vai casar!
— Papai, eu não quero casar-me com ele! — Choramingou Carolina, levantando-se de sua escrivaninha.
— Não tem isso de ‘não quero’! Você vai se casar com ele, sim! A nossa família precisa da sua ajuda — Ele se aproximou mais de Carolina — É o mínimo que você pode fazer depois de eu ter criado você por todos esses anos!
— Mas eu sou sua filha!
A marca dos dedos dele estavam bem visíveis no rosto de Carolina, após o tapa que ela recebeu. Gaspar a segurou pelos ombros, sacudindo-a.
— Você não é minha filha de sangue! E sabe disso! Eu criei você, permiti que você desfrutasse dessa boa vida! Você nos deve!
— Mas… por que eu? — Ela choramingou.
— Você não acha que eu vou dar a minha filha a um deformado, quando eu tenho você, não é? Afinal, você tinha que servir a algum propósito!
Ele a soltou com força, fazendo com que Carolina perdesse o equilíbrio e caísse no chão. Depois, ele se retirou do quarto, batendo a porta.
Carolina Navarro, 24 anos, era a filha mais velha da família Navarro. Sua mãe, Paloma, foi acusada de trair o marido e, enquanto fugia com o amante, acabou por perder a vida. Carolina tinha quase dois anos. Gaspar, então, acreditou que Carolina não era filha dele. Para evitar um escândalo, ele nunca fez o exame de DNA, mas sempre fez questão de mostrar o quanto detestava a menina.
O Grupo Navarro de porcelanas estava passando por um momento de dificuldade financeira, e foi quando apareceu uma excelente oportunidade e que serviria a Gaspar com dois propósitos: salvaria a empresa dele e, também, tiraria Carolina de sua casa.
O noivo era ninguém menos do que Máximo Castillo, filho único e herdeiro de todo o império laticínio dessa família. Ele era lindo, charmoso, inteligente, bem sucedido. Isso é, até sofrer um acidente de avião bimotor e ter metade do rosto queimado. Agora, 3 anos após esse evento, ele precisava de uma esposa e de um filho.
Carolina desceu para jantar e tanto Nadia quanto Eloísa estavam à mesa. A meia-irmã de Carolina sustentava um sorriso debochado no rosto.
— Parabéns, irmã! Finalmente vai desencalhar!
— Muito obrigada, Eloísa. Eu prefiro ser encalhada do que rodada.
Outro tapa, dessa vez, de Nadia.
— Não se atreva a falar da minha filha! — Ela rosnou, dando um tapa na mesa.
— O que está acontecendo aqui? — Gaspar perguntou, entrando na sala de jantar e olhando o rosto de Carolina, a expressão chorosa de Eloísa e os lábios trêmulos de Nadia — Eu não gosto de perguntar duas vezes!
— Gaspar, quando será esse casamento? Carolina acabou de ofender a nossa filha! Atentou contra a honra dela!
Ele olhou feroz para Carolina e ela sabia que receberia uma punição, mas ele apenas a sacudiu e a mandou para o quarto, sem direito a comer.
— E é só isso? — Nadia perguntou — Você sabe que eu não gosto que Carolina seja punida, mas.. ela passou dos limites – Nadia estava chorando e Gaspar a abraçou.
— Eu não dei uma boa surra nela porque o marido dela iria reclamar. E nós não podemos perder esse contrato.
Dentro do quarto, Carolina estava deitada na cama, abraçada ao travesseiro, chorando. Durante toda a vida, Carolina foi maltratada não só pelo pai, mas também pela madrasta, que fingia ser boa, mas sempre que podia, incitava a briga e desentendimentos entre Gaspar e Carolina. Eloísa não ficava atrás.
“Talvez o seu marido não seja tão ruim, Carolina, “ Ela disse a si mesma. Sim, as coisas podiam ser diferentes com ele!
Ela não se importava com as cicatrizes, que ela nunca nem tinha visto. O problema é que ela queria ao menos ter voz quanto a com quem ela se casaria. Carolina sonhou com o dia em que não estaria mais debaixo do chicote do pai e, não tendo ele deixado ela estudar ou trabalhar, o jeito era casar. E era ali que ela tinha grandes esperanças. Infelizmente, o destino mais uma vez não permitiu que ela fosse dona de si.
Duas semanas depois, Carolina estava assinando os papéis do casamento, por procuração. Nada de casamento religioso, pois Máximo se recusou a sair de casa. Ele esperaria por Carolina na fazenda, onde seria o novo lar dela.
“Não pode ser pior do que na casa do meu pai.” Carolina pensou, enquanto estava dentro do carro, rumo à Fazenda “La Preciosa”.
Carolina não sabia, mas o trato havia sido feito para que Eloísa, considerada a beldade da cidade, se casasse com Máximo Castillo. Porém, é óbvio que Eloísa jamais aceitaria não só um casamento com um homem que nunca viu, como um que todos tinham conhecimento de ser deformado por cicatrizes.
— Chegamos, senhora Castillo! — O motorista a informou e ela demorou até entender que era com ela que estavam falando.
— Obrigada — Ela agradeceu, fracamente.
Senhora Castillo. Soava muito estranho aos ouvidos dela.
Carolina respirou profundamente, antes de abrir a porta do carro e sair do veículo. Ela olhou em volta e se viu em frente a um casarão imenso. Rústico, claro, pois era uma fazenda, mas muito bonito.
— Bem-vinda, senhora! — uma mulher de meia idade se aproximou, sorrindo para Carolina — Eu me chamo Dolores.
Carolina sorriu.
— Olá, Senhora Dolores! Muito prazer, eu sou Carolina — ela estendeu a mão para a idosa, que a apertou.
“Essa menina é boa!” Dolores pensou. Ela chegou a conhecer a ex-noiva do patrão e aquela era muito arrogante. Jamais falava com os empregados daquela maneira, tão amável. Tão… humana.
— Estamos todos muito contentes pela senhora estar aqui! Venha, venha! O patrão está esperando ansiosamente.
Carolina concordou com a cabeça.
— E eu estou feliz por ser tão bem recebida.
Carolina subiu as escadas em direção à porta principal, sentindo o coração dela batendo muito forte. Ela era uma mulher casada e conheceria o marido naquele momento. Ela ouviu falar que ele era “estranho” e ela queria saber o que isso significava.
Antes que entrassem pelas portas principais, Dolores parou de andar e se virou para Carolina, um pouco insegura.
— Ah, senhora…O patrão é um homem sofrido, e às vezes ele pode parecer rude. Mas ele é bom. Eu o conheço há anos.
— Eu soube que ele sofreu um acidente — Carolina disse.
Dolores balançou a cabeça, concordando.
— Sim. E isso fez ele ficar um pouco triste demais. Um pouco mais duro, entende? Tenha paciência com ele.
O olhar de Dolores indicava que ela gostava mesmo do patrão.
— Eu darei o meu melhor, Dolores.
A idosa abriu um largo sorriso e continuou a andar.
A porta de entrada era imensa, de madeira negra. O piso era todo de madeira escura, também, muito bem encerado. Todos os móveis eram de madeira, inclusive os sofás - mas muito bem estofados. O local gritava “rústico!”, mas de excelente gosto.
Elas pararam em frente a uma porta dupla de madeira escura, como a da entrada, toda entalhada. A maçaneta era dourada. Dolores deu dois toques.
— Pode entrar! — Uma voz masculina, profunda, soou lá de dentro. Carolina gostou do que ouviu e pensou que, pelo menos a voz, era muito bonita.
—Entre, senhora — Dolores pediu e deu um passo para o lado, dando passagem a Carolina.
Esta concordou com a cabeça, colocou a mão na maçaneta, girou-a e respirou fundo, antes de entrar.
A primeira coisa que ela viu foi a imensa janela, mas com as cortinas fechadas. Ela via apenas o topo da cabeça do homem, de cabelos claros, pela cadeira. Ele estava de costas para ela.
— Olá, Senhor Castillo — Ela disse e fechou a porta. Porém, quando ela começou a andar em direção à mesa, ele a interrompeu.
— Pare!
Ela parou, sobressaltada.
— Ah, eu…
— Não há necessidade de você andar até mim. Seja bem-vinda, esposa. Eu a chamei aqui para lhe passar algumas regras.
— Oh, certo – Ela falou, baixinho.
— Não me interrompa — Ele ralhou e ela ia responder um “tudo bem”, mas então, estaria fazendo exatamente o que ele disse para ela não fazer. Máximo aprovou que ela permaneceu calada — Primeira coisa: você não pode entrar aqui sem ser chamada. Essa regra vale para o escritório e para o meu quarto. Dolores lhe mostrará qual é a fim de evitarmos problemas. Não me procure, exceto se for uma emergência. Sempre espere que eu procure por você. Não fique olhando para mim.
Carolina concordou com a cabeça, mas nada disse.
— Você entendeu? Diga algo! — Ele falou grosseiramente e Carolina, que tinha o sangue quente, apertou os olhos.
— Bom, você disse para eu não interrompê-lo! — Ela disse e só depois se perguntou se não tinha sido muito atrevida.
Silêncio.
— Você é insolente.
— Eu não consigo ver o futuro. Se o senhor não disser que terminou de falar, eu não tenho como saber — Ela odiava ser tratada com injustiça. Ela já tinha passado por aquilo na casa do pai.
“E eu achando que aqui seria diferente…”
Ele inspirou profundamente.
— Eu vou deixar passar, dessa vez. Mas segure a sua língua nas próximas vezes — Ele a alertou e ela, mais uma vez, ignorou o tom ameaçador dele.
— Então seja mais claro. Eu não posso vê-lo, não posso ler suas expressões. Eu preciso que o senhor vocalize os seus desejos, ou melhor, as suas ordens.
Máximo estava olhando a janela e não pôde deixar de sorrir. Aquela mulher tinha coragem, isso ele precisava admitir!
— Saia. Vá para o seu quarto, fique lá, se familiarize, descanse. Hoje a refeição será servida no seu quarto. Espere por mim mais tarde.
— Esperar pelo senhor?
Ela viu quando ele virou a cabeça, como se pudesse olhar por sobre o ombro.
— Sim. Nossa noite de núpcias.
Carolina não havia pensado naquilo. E se sentiu uma idiota. Eles tinham casado, o homem precisava de um herdeiro. “Você é uma tonta!”
— Carolina? — Ele a chamou e ela gostou de como ele pronunciou o nome dela, mas logo balançou a cabeça.
— Ah, sim, entendi. Certo. Estou… estou saindo. Até mais.
Ela se virou para sair, mas antes que o fizesse, ele a chamou.
— Carolina!
— Sim? — Ela respondeu, depois de contar até cinco.
— Eu não a mandei sair.
— Ah, perdão, patrão. Posso sair?
Ele sorriu, divertindo-se.
— Pode.
Ela abriu a porta e o deixou sozinho.
“Homem insuportável! Quem ele pensa que é? Acha que eu sou escrava dele?”
— Senhora, venha. Eu vou lhe mostrar o seu quarto — falou Dolores.
Carolina se virou para ela e sorriu sem graça.
— Ah, sim, claro. Vamos, vamos.
Ela fez sinal com a mão para que Dolores andasse. E esta o fez.
Quando entraram em um corredor largo, Dolores falou novamente.
— A senhora gostou do patrão?
“Coitada, ela jura que ele é legal!”
— Sim, claro! — Carolina falou, sem querer magoar a idosa. Esta sorriu.
— Isso é tão maravilhoso! Veja, este aqui é o seu quarto e aquele — Ela apontou para o quarto do fundo do corredor, com portas imensas — é o do patrão.
— Obrigada, Dolores. Eu vou tomar um banho e dormir um pouco.
— Claro, claro. Com licença e bem-vinda novamente — A idosa começou a se afastar, então ela parou e olhou para Carolina — Mais tarde trarei o jantar, senhora. Lá para as cinco.
— Tudo bem.Obrigada, Dolores.
Dolores se foi e Carolina abriu a porta do quarto. Ele era muito bonito, como de um hotel. As paredes eram amarelo claro, com cortinas de um tom bege claro. A roupa de cama, branca com pequenas flores bordadas.
Após tomar um banho - a banheira era imensa! - Carolina cochilou e colocou o despertador para dali a uma hora. Ela mal acordou e alguém já batia na porta.
Capítulo 2 Noite de núpcias
— Como são pontuais! — Ela falou e foi abrir a porta. Dolores entregou a ela uma bandeja com um prato de Cochinita Pibil e umas tortilhas.
— Obrigada! — Carolina adorava aquilo.
Ela comeu e viu que na bandeja havia um recado. Ela o abriu.
“Dentro do guarda-roupa, há uma caixa. Vista-se com o que tem dentro. Quando o relógio soar oito horas, vá para o meu quarto, entre, coloque a venda e espere por mim na cama.” Era um recado de Máximo.
Carolina passou os dedos pela caligrafia dele. Era elegante. Ela levantou-se e foi procurar pela caixa.
Quando o relógio soou às oito da noite, Carolina abriu a porta do próprio quarto e olhou em volta. Ela trajava um robe negro, mas por baixo, uma camisola de seda, negra também, muito bonita. Ao ver que não havia ninguém ali, ela correu para o quarto no fim do corredor e entrou.
Carolina esperava que a camisola de núpcias dela seria branca. Nadia, sua madrasta, havia colocado uma muito elegante nas coisas dela. Não, não por bondade ou carinho, mas como um deboche por Carolina estar se casando com aquele homem. Mas, pelo menos, ela não podia dizer que a roupa escolhida pelo marido dela era feia. Pelo contrário, além de bonita, elegante.
O quarto estava completamente escuro. Ela tateou pelo interruptor na parede, mas não o encontrou. Ela não conseguia ver nada! Com as mãos na frente do corpo, ela foi andando para a frente. Ele disse para ela esperar na cama.
Ela esperou e, finalmente, ela ouviu movimento do lado de fora. O corredor estava escuro e ela não conseguia ver o marido.
“Ele não quer que eu o veja, é claro!” Ela pensou e então se lembrou da venda. Ela rapidamente a colocou.
Isso fez com que ela ficasse ainda mais nervosa. Carolina conseguia ouvir tudo.
Som de tecido e, então, a cama começou a afundar e ela sentiu a presença dele por cima dela. Ela estava deitada.
— E-eu… eu nunca…— Ela gaguejou. Carolina havia se guardado para o homem com quem amaria e se casaria. A primeira parte, infelizmente, não foi como ela planejou.
Máximo parou de se mover instantaneamente. Ele tinha visto Carolina pelas câmeras, apenas, e a achou muito bonita. Mas ele não queria que ela o visse. Ele estava horrendo e ele temia que, se ela o visse, eles não consumariam o casamento.
Ele achou que tudo poderia acontecer bem rápido e com sorte, ela ficaria grávida já na primeira vez. Não que ele não tivesse se sentido atraído por ela, mas fazer daquela maneira era, de certa forma, humilhante para ele e para ela. Ao saber que ela ainda era virgem, ele teve que respirar fundo. Não seria rápido.
— Ok — Ele respondeu de maneira que, para Carolina, soou sexy. Ele colocou a mão na perna dela e ela deu um pulo — Calma, eu vou tentar ser o mais delicado possível.
Ela concordou com a cabeça.
E ele cumpriu a promessa, beijando o corpo dela, mas quando ela tentou tocá-lo, ele segurou os pulsos de Carolina.
— Não. Não encoste em mim. Mantenha as mãos no colchão e deixe que eu cuido do resto.
— Mas..
— Carolina!
Apesar de ser um tom mandão, não foi grosseiro. Carolina suspirou e concordou com a cabeça, incerta se ele podia enxergá-la.
Ela sentiu cada toque e estava muito nervosa. Ele não a beijou na boca, mas do pescoço para baixo, não sobrou nenhuma parte sem que os lábios quentes e macios dele encostassem.
Na manhã seguinte, Carolina acordou sozinha, e já no quarto dela. Ela se moveu para sentar e se sentiu dolorida. Apesar do marido ter sido gentil, em um determinado momento ele parecia um animal, tendo inclusive pedido desculpas a ela por isso.
Ela olhou para o teto e sorriu. Ele havia beijado o corpo dela e ela corou ao se lembrar. Apesar de doloroso, foi também muito bom.
Assim que ela se levantou, viu uma caixa em cima da mesinha de cabeceira. Parecia uma caixa de guardar joias. Havia um bilhete.
“A noite foi maravilhosa. Aqui está o pagamento.”
O sorriso que antes brincava nos lábios de Carolina, sumiu. A expressão do rosto dela mudou para uma careta. Ela trocou de roupa, fez a higiene pessoal, pegou a caixa e saiu do quarto, furiosa, ignorando o incômodo entre as pernas.
Enquanto Carolina dormia, Máximo procurou pelo nome dela em algumas fontes e ficou sabendo sobre a história da mãe dela e como todos diziam que ela era fácil como a mãe. Isso só o fez ficar com raiva e foi exatamente por isso que ele a “pagou”. Ao menos assim, talvez ela não se envolvesse com outros homens. Ele não exigia amor, já que nem ele estava disposto a dar, mas ser corno, não!
O telefone dele tocou, era seu pai.
— Está gostando da vida de casado, meu filho? — Cesar Castillo perguntou, esperançoso.
Máximo se remexeu na cadeira e soltou uma risada.
— Nada mal. Acredito que, se tudo correr como o esperado, em breve saberemos se Carolina está grávida.
— Carolina? — Cesar perguntou, confuso.
— Sim, pai, a minha esposa. O nome dela é Carolina, não se lembra? — Máximo perguntou, sem paciência.
— Ah… — César parecia distante, mas não comentou nada. — Eu espero por boas notícias. Sua avó vai ficar eufórica!
O negócio fora feito para que Eloísa, considerada a beleza da cidade, se casasse com Máximo Castillo. No entanto, é óbvio que Eloísa jamais aceitaria não apenas um casamento com um homem que ela nunca tinha visto, mas um que todos sabiam estar deformado por cicatrizes.
A ligação terminou e César suspirou profundamente. Ele já deveria ter esperado por aquilo, porém, ficou muito irritado.
Dolores estava arrumando uma almofada na sala.
— Dolores, bom dia. Onde está o meu marido, por favor? — Ela perguntou, tentando não ser grossa com a idosa que nada tinha a ver com aquilo.
Dolores arregalou os olhos e levantou a cabeça para olhar a patroa, assustada.
— Ah, bom dia. Ele está no escritório — Carolina começou a ir naquela direção — Senhora! Não vá!
Dolores foi atrás.
— Eu preciso falar com ele — Carolina disse, sem parar de andar.
— Senhora, ele não vai gostar…
— Dolores, ele me tratou mal e ele vai ouvir!
Dolores concordou com a cabeça e ficou parada.
— Bata antes, por favor! — Foi tudo o que ela disse e Carolina fez que sim com a cabeça.
Ao chegar em frente à porta dele, ela bateu, com uma certa força.
— Quem é? — A voz de Máximo soou e Carolina ficou com mais raiva.
— Sou eu! — Ela esbravejou — Carolina!
— Vá embora!
Ela olhou para a porta, de boca aberta.
“Mas… ele é muito atrevido!”
Carolina tentou abrir a porta, mas ela estava trancada.
— Máximo Castillo! — Ela bateu com força, novamente.
— Eu disse para ir embora! — Ele repetiu.
— Pois abra essa porta, agora!
Ele não respondeu nada, mas logo, dois homens entraram no casarão e se aproximaram dela.
— Senhora, o patrão pediu para a senhora sair da porta do escritório dele.
O homem mais alto, com um chapéu na cabeça, falou, gentilmente.
— Eu não vou sair até que ele fale comigo — Ela disse educadamente ao homem e se virou para a porta — Você é homem para dormir comigo e para me mandar esse bilhete, mas não é homem para falar comigo cara a cara?
Os homens arregalaram os olhos e se entreolharam, pois ninguém falava com o patrão deles daquele jeito.
Barulho de dentro do escritório, a chave foi virada e Carolina viu a maçaneta girando.
Capítulo 3 Tirando satisfação
Antes que Carolina pudesse fazer qualquer coisa, ela foi puxada para dentro do escritório e virada de frente para a porta. Ela viu a mão de Máximo, com cicatrizes, mas ela não pôde prestar muita atenção àquilo, pois ele estava bem atrás dela, respirando em seus cabelos.
Ela não conseguia entender, mas ao mesmo tempo em que sentiu medo, logo aquela sensação foi substituída por uma certa excitação.
— O que foi que você disse? — Ele falou perto do ouvido dela, uma mão na cintura de Carolina, apertando-a ali, uma perna entre as dela, forçando o quadril dele nas costas dela.
— Você… você me chamou de prostituta! — Ela reclamou, concentrando-se para falar coerentemente. A presença dele a estava deixando tonta.
Mal sabia ela que ele não estava muito diferente.
Máximo não se lembrava de ter gostado tanto de se deitar com uma mulher, ainda que não tenham se beijado e nem ela tocado nele. Depois de levá-la para o quarto dela, no meio da madrugada, ele voltou para o quarto dele e ficou repassando o que tinham feito. Ele queria mais, porém, não se atreveria a ir até o quarto dela e arriscar ela acordar e o ver.
Naquele momento, com ela pressionada entre a parede e ele, Máximo estava precisando de toda a força que possuía para não virá-la para ele e beijá-la. E muito mais. Ela ter dito que ele não era homem o deixou furioso!
— Você casou por dinheiro, não? Quem casa, faz sexo. E quem faz sexo por dinheiro, é prostituta, ou eu estou errado? — Ele respondeu — Agora, como você se atreve a dizer que eu não sou homem?
Ele esbravejou, apertando ainda mais a cintura dela e projetando o quadril para frente. Ela soltou um gemidinho de leve e ele não sabia se tinha entendido errado.
— Eu não sou… prostituta! — Ela falou, com raiva, tanto pelas palavras dele quanto por estar gostando da proximidade do corpo dele.
— Você acha que eu não sou homem? — Ele perguntou e movimentou os quadris, fazendo com que Carolina o sentisse nas costas — Você quer que eu te mostre como eu sou homem?
Ela não sabia que demônios haviam se apossado dela para que ela dissesse as próximas palavras.
— Sim! Mostre-me!
Máximo ficou atordoado por uns segundos, mas então, ele sorriu de lado. Carolina trajava um vestido leve, de verão. Ele subiu uma das mãos pelas coxas dela, arrancando suspiros da mulher.
Após abrir as próprias calças, ele inclinou o corpo dela para frente, mas viu que a diferença de altura seria um inconveniente, ali.
— Feche os olhos.
— Huh?
— Feche os olhos! — Ele ordenou e Carolina concordou com a cabeça, fechando os olhos. Ela se sentiu sendo virada e o hálito de Máximo estava no rosto dela. Ela soltou a caixa que ainda segurava da joia, mas ele não deixou que ela tocasse nele — Não.
— Deixa eu segurar nos seus braços. Você está de blusa, não está? — Ela pediu entre suspiros.
— Ok — Ele deixou e ela levantou as mãos, segurando-se nos braços de Máximo. Ele olhou os lábios rosados dela, levemente cheios e a beijou.
Carolina queria colocar as mãos nos cabelos dele, mas sabia que não podia. Ela abriu a boca e ele aprofundou o beijo. Ela sentiu que ele a conduzia para algum lugar, até sentir-se ser levantada do chão e sentada em cima do que ela acreditou ser a mesa.
Sem aguentar mais, ela subiu as mãos para os cabelos dele. Máximo parou de beijá-la por dois segundos, mas ao perceber que ela não parecia se importar nenhum pouco quando as mãos passaram por um pedaço da têmpora onde não havia cabelo, ele resolveu que deixaria que ela o tocasse apenas ali.
— Ainda está dolorida? — Ele perguntou entre um beijo e outro.
— Não — Ela mentiu.
Os dois capatazes permaneceram do lado de fora, até que ouviram sons de coisas caindo ao chão e pensaram em entrar. Então, os gemidos de Carolina, altos, os fizeram parar.
— Eu acho que…
— Vamos embora daqui. Os patrões já se resolveram — O mais baixo falou e os dois homens saíram dali.
Dolores, que havia ficado por perto, ao ouvir Carolina, sorriu. Ela queria muito que os dois ficassem bem e a patroa parecia uma boa mulher. Ela se afastou, feliz.
Máximo e Carolina respiravam com dificuldade. Ele colocou uma mão atrás da cabeça dela e a puxou para perto. O rosto dela estava encostado no peito dele. Ainda que ele não tivesse retirado a blusa, ela conseguia sentir o calor que a pele dele emanava, e ouvir o coração do homem batendo forte.
“Eu não acredito que nós fizemos isso de novo!” Ela pensou, mordendo os lábios e ainda de olhos fechados.
Máximo não tinha intimidade há muito tempo com uma mulher e ele não sabia se era por isso ou se Carolina era, de verdade, diferente. Ele estava se sentindo menos ridículo como homem. Ela pareceu gostar do que eles fizeram.
“Prostitutas sabem fingir muito bem.” Uma voz amargurada soou na mente dele.
— Fique de olhos fechados. Eu vou te ajudar a chegar na porta — Ele falou e Carolina franziu o cenho.
— Eu quero ver você.
— Não — Ele respondeu secamente.
— Mas… nós dois já estamos íntimos. Somos casados! — Ela reclamou, mas não abriu os olhos.
— Não. Você só está aceitando ser tocada por mim porque não me viu.
— Isso não é verdade!
— Então você é tão profissional que consegue passar por cima de uma cara feia como a minha? — Ele perguntou e Carolina compreendeu o que ele quis dizer.
Ela o empurrou, ainda de olhos fechados, e saiu da mesa, quase caindo.
— Você é um cretino! — Ela reclamou, segurando as lágrimas — Eu dei a minha virgindade a você, como pode dizer isso?
— Nada que uma cirurgia não pudesse resolver — Ele comentou.
Carolina urrou de raiva, deu alguns passos à frente e abriu os olhos para poder ver para onde ia. Ela viu a caixa de jóia no chão e com a queda, a mesma se abriu, revelando um lindo colar de diamantes. Ela chutou a caixa para o lado, abriu a porta e saiu do escritório, bufando.
Máximo viu tudo e balançou a cabeça.
“Se ela acha que me engana, está equivocada!” Ele pensou, irritado.
Enquanto isso, César estava na capital, bufando.
— O que houve, meu filho? — Yolanda perguntou, olhando para César enquanto ela se escorava no batente da porta.
— Quem se casou com Máximo não foi Eloísa — Ele reclamou, ficando de pé.
A idosa, mãe de César, entrou no escritório.
— Deixe-me ver essa moça — Ela pediu.
César possuía uma foto da família Navarro em seu computador e abriu o arquivo. Yolando apontou para a bela moça de cabelos escuros e olhos castanho cor-de-mel.
— É essa? — Ela perguntou e César concordou com a cabeça — Mas ela é muito bonita!
— Mas não tão bonita quanto a irmã, Eloísa! — Ele reclamou, apontando para a moça loira.
Yolanda olhou as duas moças.
— Pois para mim, Carolina é mais bonita. Ela tem uma aura muito mais gentil — Ela declarou — Essa tal de Eloisa me parece uma moça arrogante. Veja a expressão dela!
Sim, todos diziam que Eloísa era lindíssima, porém, tinha um temperamento complicado, por ser mimada demais. No entanto, César sabia que muitos homens queriam sair com a moça e, portanto, isso a fazia ser mais valiosa. Ele queria o melhor para o filho dele e para a mãe dos futuros herdeiros dos Castillo.
— Mas mãe…
— Acalma-te, César. E veja pelo outro lado: se esta moça não é tão cobiçada, com certeza ela é mais humilde. O nosso menino precisa de alguém assim. Imagine que essa Eloísa já o rejeitou sem nem mesmo vê-lo!
Nisso, César concordava com Yolanda.
— Certo, certo — Ele disse — Não vou então reclamar de nada com os Navarro. Pelo menos por enquanto.
Yolanda sorriu e voltou a olhar a foto de Carolina. Ela tinha um pressentimento de que aquela moça seria a mulher certa para Máximo.
Mais tarde, na fazenda, Carolina estava em seu quarto e se recusou a descer para almoçar. Depois, ela também se recusou a descer para jantar e, não demorou nem cinco minutos da recusa dela, a porta do quarto dela se abriu.
Primeiro, Carolina deu um pulo, segurando o travesseiro que estava em seu colo, enquanto ela lia um livro.
— Mas.. o que diabos é isso? — Ela perguntou, agora irritada.
Não havia ninguém ali na frente da porta.
Capítulo 4 De folga
— Desça, agora! — Máximo. Ela já conseguia reconhecer não só a voz, como o tom dele.
— Não — Ela respondeu calmamente e voltou a se deitar, com o livro em mãos.
— Carolina, você quer que eu a arraste para a sala de jantar?
— Bom, querer, eu não quero. Na verdade, já que estamos tratando do que eu quero, vá embora e me deixe em paz.
— O quê? — Ele perguntou, chocado com o atrevimento dela.
Carolina ficou satisfeita. Se ele fosse ‘arrastá-la’, seria necessário que ela o visse. Além disso, ela ficou feliz que ele estava sendo afrontado, depois da forma como a tratou.
— Isso é porque eu ainda não a paguei? — Ele perguntou e ela se tremeu de raiva.
— Ora, fora daqui!
— Essa é a minha casa!
— E minha também, se sou sua esposa! — Ela respondeu e ele não retrucou nada. Ela sorriu, sentindo-se vitoriosa.
Ela se virou e ficou de costas para a porta, voltando a ler.
Máximo entrou no quarto e a viu, deitada de costas, e não pôde ignorar a visão que ela oferecia a ele: as longas pernas torneadas, o bumbum redondo… ela trajava uma camisola curta. Ele engoliu em seco e se aproximou.
“O que eu poderia esperar de uma mulher com um corpo desses? Deve ter sido muito fácil para ela se divertir com os homens, não é mesmo? Mas agora, ele é meu!”
Carolina sentiu uma presença atrás dela e franziu o sobrolho, sem acreditar, mas olhando para a parede, sim, havia uma sombra, ali.
Ela se virou de pronto e deu de cara com um homem muito alto, de cabelos claros, pele levemente bronzeada de sol - o que indicava que ele saia sim do casarão. Ele trajava calça jeans de lavagem escura, um cinto com uma fivela grossa, uma camisa de botões verde clara e Carolina percebeu que ele tinha braços fortes. Um dos braços, com cicatrizes.
Porém, o que chamava a atenção era o rosto dele. Um lado, o mesmo das cicatrizes no braço e pescoço, tinha uma meia máscara. Do outro, o lado visível, Carolina percebeu como ele era bonito! Lábios levemente cheios, aparentemente de tamanho harmonioso para o rosto, o nariz parecia afilado, mas ela não podia ter certeza por conta da máscara. Sobrancelhas cheias, apesar de claras e os olhos… olhos tão verdes como esmeraldas. E brilhantes como. Porém, o brilho era de raiva, desprezo.
— Satisfeita? — Ele perguntou, entredentes e fúria brilhou nos olhos dele. Só então Carolina se lembrou que não deveria ficar olhando para ele. Ele mesmo disse isso no dia anterior.
— Não — Ela respondeu e passou os olhos pelo corpo dele e voltou para o rosto.
— Você é muito descarada, para uma virgem — Ele debochou, olhando-a de cima a baixo, louco para ver o quão descarada ela poderia ser.
— Não sou virgem. Eu me casei, tive uma noite de núpcias e, também, um pouco de ação num escritório — Ela falou, séria, olhando nos olhos dele — Infelizmente, meu marido é um idiota, grosseirão!
Ele se aproximou ainda mais dela e Carolina sentiu o perfume de Máximo. Amadeirado, combinando perfeitamente com ele.
— Eu disse para não ficar me olhando, não foi? — O tom de voz dele era ameaçador.
— Eu não sou cega. Graças a Deus — Ela retrucou, ignorando o claro aviso na voz do marido — Ou o quê? Vai furar os meus olhos? Arrancá-los fora? Eu não duvidaria nada, vindo de você!
— Eu não sou um monstro! Diz isso por conta da minha aparência, não é?
— Ficou doido? Além de tudo, ainda é maluco… — Uma voz lá no fundo da mente dela a alertava para calar a boca! E se ele fosse como o pai dela? E se ele batesse nela? Ela estava sozinha numa fazenda isolada. E Máximo era imenso, muito maior e mais forte do que Gaspar. Um tapa dele desmontaria o rosto dela.
Ele inspirou profundamente e se moveu rápido, suspendendo-a na cama, fazendo com que ela ficasse de joelhos e ele se inclinou mais para baixo, aproximando o rosto do dela.
— Ai! Você está me machucando! – Ela reclamou e tentou se soltar.
Máximo olhou para a camisola dela, para os seios quase desnudos naquele pedaço de pano tão pequeno. Ele a soltou, foi até a porta, fechou com raiva e voltou para Carolina. Ela engoliu em seco.
Ele começou a desafivelar a calça e ela sabia o que ele queria. Ela queria o mesmo, mas Carolina estava disposta a ser forte dessa vez.
“Ah, mas não mesmo!”, ela pensou.
— Desculpe, Senhor Castillo. Essa prostituta está de folga esta noite! — Ela disse, amarga e viu como os olhos dele se abriram, surpresos. — Por favor, saia!
Ela apontou para a porta, com raiva.
Máximo a olhou com raiva e perplexidade. Ela estava mesmo mandando ele sair do quarto dela, negando fogo?
— Eu quero você — Ele falou, se aproximando dela. Máximo tinha consciência de que estava ficando viciado nela.
“Somos casados. Não é isso o que marido e mulher fazem? Essa deveria ser a nossa lua-de-mel! E se eu quero filhos…”
— Ah, que pena. Não estou trabalhando essa noite. Fora! —O tom ríspido dela a fazia parecer, aos olhos dele, um filhote de gato, furioso, colocando as garras para fora, mas ainda assim, uma gracinha.
Carolina estava com os olhos cheios de lágrima, mas de raiva e frustração. Como podia ele tratá-la daquela forma?
Máximo queria agarrá-la à força e beijá-la. Ele imaginou se talvez, beijando-a como mais cedo no escritório, ela sentiria a mesma paixão e se entregaria a ele. Então, ele deu um passo à frente, mas Carolina, que estava com muita raiva, atirou o travesseiro nele.
Ele a olhou, e riu de lado, jogando o travesseiro ao chão.
— Um travesseiro? Isso me parece mais como um convite para a sua cama!
Carolina olhou em volta e, dessa vez, ela lhe atirou o livro. “Gatinhos são também muito perigosos, com garras afiadas e dentes pontudos”, ele pensou com amargura.
Como ele não esperava que ela fosse ter esse tipo de coragem, não desviou. O livro bateu do lado da máscara, e ele sentiu um leve ardor na pele do couro cabeludo.
Carolina o olhou, com os olhos arregalados. Ela pensou que ele se esquivaria!
Capítulo 5 Ela saiu
— Você… se atreveu? — Ele perguntou, apertando os olhos para ela e falando devagar.
Ela sentiu um certo peso na consciência, porém, a voz interna de Carolina falou a ela para não fraquejar. Ela levantou o queixo, desafiadoramente e o olhou nos olhos. Se ele batesse nela, valeria a pena. Melhor apanhar do que ficar como uma mosca morta!
— Sim! — Ela disse, rápido e seco, cheia de atitude.
Máximo apertou os lábios e deu meia volta, saindo do quarto a passos largos. Ele não era homem de bater em mulher e nem nunca seria, mas Carolina era… Era difícil! E ele não queria continuar a brigar. “Se quer ficar com fome, que fique!”.
O estrondo que a porta dela fez ao ser fechada foi tremendo, e ela se encolheu involuntariamente.
"Pelo menos ele se foi!", ela pensou e se deixou cair na cama, com os braços acima da cabeça.
Após alguns momentos, ela se levantou e recuperou o livro que estava todo torto no chão.
— Desculpe, livrinho! — Ela disse e passou a mão na capa, como se fizesse carinho no objeto. Carolina adorava livros.
Dolores levou uma bandeja com comida para Carolina, mas ao entregá-la, a idosa olhou para o corredor e Carolina suspeitou que algo não estava certo.
— Dona Dolores, a senhora trouxe comida escondida do senhor meu marido?
— Sim, patroa. Vamos, pegue a bandeja —Dolores falou, empurrando a bandeja para Carolina, que a segurou.
— Eu não quero que a senhora se meta em confusões por minha causa – A moça sussurrou, ao que Dolores respondeu com um belo sorriso.
— Não se preocupe, patroa. O Senhor Máximo é um pouquinho turrão, mas ele não vai fazer nada contra mim se descobrir. Só brigar, talvez — Ela deu de ombros.
Carolina balançou a cabeça de um lado para o outro, sorrindo.
— Obrigada. E boa noite, Dona Dolores — Carolina disse, sorrindo para a idosa. Ela sabia que pelo menos uma pessoa seria boa com ela, ali.
— De nada, patroa. E… tenha paciência. Ele vai se acostumar com a senhora.
Carolina balançou a cabeça, sorrindo e fechou a porta. Ela queria dizer que Máximo não tem que se acostumar a nada, já que ele quem arranjou aquele casamento. Ela, por outro lado, não teve escolha nenhuma! Isso era mais um ponto que a deixava ressentida com o marido.
“Não, não, Carolina! Deixe esses pensamentos pra lá e vá comer. A hora de comer é sagrada!”
Ela lavou as mãos, orou e começou a comer.
No próprio quarto, Máximo estava de péssimo humor. Ele ainda estava com a toalha na cintura e se sentou na cama.
— Essa mulher é uma atrevida! — Ele resmungou e se deixou deitar.
Ele não conseguia aceitar que ela o tinha recusado. Depois de toda a paixão que ela demonstrou mais cedo.
‘Mas é claro, você não a pagou!’, ele brigou consigo mesmo, mas uma voz lá no fundo o lembrou de que Carolina não aceitou o primeiro "pagamento".
— Ela está fingindo, achando que se bancar a durona, a desinteressada, poderá ganhar muito mais. Eu conheço esse tipo!
Ele se virou e adormeceu daquele jeito. Os sonhos de Máximo foram todos com Carolina e em como ela podia ser fogosa e cabeça dura, também.
Pela manhã, ele desceu para tomar o café da manhã e após esperar por alguns minutos, ele perguntou a Dolores onde estava Carolina, que ainda não havia descido.
A idosa o olhou preocupada e ele repousou o garfo que tinha na mão e a olhou, esperando a má notícia.
— Bom, senhor… a senhora Castillo saiu bem cedinho.
Ele franziu o cenho.
— Saiu? Para onde, Dolores?
— Eu não sei, senhor — A idosa não sabia, de verdade. Ela viu Carolina descendo as escadas, a chamou, mas a moça apenas acenou para ela e continuou andando.
Máximo recolheu o guardanapo em seu colo, limpou a boca e o jogou em cima da mesa, com raiva.
— Essa mulher é um problema! — Ele reclamou — Jacinto!
Não demorou muito para que o empregado chegasse à sala de jantar e retirasse o chapéu, abaixando a cabeça.
— Sim, senhor Castillo?
— Você sabe onde está a minha mulher? — Máximo perguntou entredentes, tentando não ser grosseiro com o homem.
— Ela pediu que o Fernando a levasse para a cidade, senhor — Jacinto respondeu —Mas ele não levou, pois disse que precisaria falar com o senhor. Então… ela pegou o celular e pediu um carro. Ela andou até lá no portão.
Máximo respirou fundo. Ele preferia que Fernando tivesse levado Carolina, assim ele saberia exatamente onde ela estava e com quem. Mas ele sabia que o empregado não agiu errado e, portanto, não poderia reclamar.
— Certo. Obrigado. E diga a Fernando que, da próxima vez, leve-a. E depois me mantenha informado do paradeiro dessa… — Ele respirou fundo e deu um sorriso que Jacinto poderia chamar de macabro. – Da Senhora Castillo. Pode ir, Jacinto.
Ele fez um movimento de aceno com a mão e Jacinto balançou a cabeça em anuição, retirando-se em seguida.
Máximo se levantou, pegou as chaves do carro, ajeitou a máscara e foi atrás de Carolina. Não é que ele quisesse prendê-la, mas ele não queria que ela fosse andar por aí sozinha, desacompanhada. Ela não conhecia o local, as pessoas não sabiam quem ela era e ele temia que ela encontrasse alguma pessoa mal intencionada pelo caminho.
Ele dirigiu o mais rápido que pôde. Ele não tinha o costume de sair da fazenda e de se misturar com as pessoas do povoado de Águas Lindas. Ele sabia que elas o chamavam de monstro, por suas costas.
Máximo chegou aos arredores da cidadezinha e nada de encontrar Carolina. Ele rodou por todas as ruas e nada.
— Maldição, eu vou ter que descer do carro! — Ele deu um tapa no volante, frustrado.
Ele parou o veículo, suspirou profundamente e abriu a porta, mas não toda, pois ouviu alguém falando algo que lhe chamou a atenção.
— Sim, ela é nova por aqui. Mal chegou e já sofreu esse acidente, coitadinha!
Ele arregalou os olhos. Não era comum aquele local ter visitantes, portanto…